sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

O inacabado que há em mim

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Sou como o rio em processo de vir a ser

Eu me experimento inacabada.

Da obra, o rascunho. Do gesto, o que não termina. Sou como o rio em processo de vir a ser.

A confluência de outras águas e o encontro com filhos de outras nascentes o tornam outro.

O rio é a mistura de pequenos encontros. Eu sou feito de águas, muitas águas. Também recebo afluentes e com eles me transformo.

O que sai de mim cada vez que amo? O que em mim acontece quando me deparo com a dor que não é minha,

mas que pela força do olhar que me fita vem morar em mim? Eu me transformo em outros? Eu vivo para saber.

O que do outro recebo leva tempo para ser decifrado. O que sei é que a vida me afeta com seu poder de vivência.

Empurra-me para reações inusitadas, tão cheias de sentidos ocultos. Cultivo em mim o acúmulo de muitos mundos.

Por vezes o cansaço me faz querer parar. Sensação de que já vivi mais do que meu coração suporta.

Os encontros são muitos; as pessoas também. As chegadas e partidas se misturam e confundem o coração.

É nessa hora em que me pego alimentando sonhos de cotidianos estreitos, previsíveis.

Mas quando me enxergo na perspectiva de selar o passaporte e cancelar as saídas, eis que me aproximo de uma tristeza infértil.

Melhor mesmo é continuar na esperança de confluências futuras. Viver para sorver os novos rios que virão.

Eu sou inacabada. Preciso continuar.

Se a mim for concedido o direito de pausas repositoras, então já anuncio que eu continuo na vida.

A trama de minha criatividade depende deste contraste, deste inacabado que há em mim.

Um dia sou multidão; no outro sou solidão. Não quero ser multidão todo dia.

Num dia experimento o frescor da amizade; no outro a febre que me faz querer ser só.

Eu sou assim. Sem culpas.

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