Paulo escreveu sobre o amor em sua forma e expressão mais sublime (ICo13).
Aquele amor eu só conheço, com todas as suas implicações, em Jesus.
Nem o santo mais elevado em suas aspirações viveu completamente aquele amor.
O próprio Paulo tinha naquela consciência a sua motivação e seu alvo de crescimento para o ser, mas ainda não o havia alcançado.
A leitura de Atos e das cartas de Paulo nos revelam que o apostolo ainda não havia alcançado aquele nível de sentir e responder em todas as coisas—não o tempo todo!
A segunda epístola aos Coríntios, por exemplo, nos revela a dor e a passionalidade de seu ser em relação a coisas e relacionamentos para os quais a prática de I Co 13 teriam sido a cura.
A revelação recebida por Paulo, como não poderia deixar de ser, era muito maior que ele mesmo como homem. Não era dele. Era também para ele!
Aquele amor não é praticado por nós nem mesmo em relação a Deus.
Amamos a Deus de modo inferior, muitas vezes até animal e erótico nos sentimentos que em nós nascem, tais como ciúme, disputas, inveja e convicções que se fazem defender com ardores de guerreiros no campo de batalha.
Até mesmo nossa noção de Dogma é abraçada à partir de uma forma passional de amor.
No Dogma ama-se a Deus com um amor que em I Co 13 é destruído. Nossas profecias, dons, fé, caridade, e bondades—ainda estão no nível da elevação do amor psicológico ao seu nível mais superior, mas ainda é a alma amando a Deus, defendendo Deus, sofrendo por Deus e enfrentando os inimigos de Deus!
É nesse sentido que devemos dizer que o Dogma se instala como tal mediante a virtude de um amor profano. Afinal, em I Co 13, o Dogma é o Amor e não há amor para se amar o Dogma.
Daí todas as formas de amor ao Dogma serem profanas, pois, servem-se da mesma fonte de sentimento e de consciência com a qual se ama a mulher, os filhos, os amigos e a vida; ou seja: ama-se no antagonismo e na contradição!
Aquela forma de amor nos curaria a todos. E se não estamos curados—eu pelo não estou, pois vejo-me amando a Deus com ardores, calores e muitas passionalidades—é porque estamos ainda muito longe de chagarmos lá.
Pessoalmente creio que não chegaremos jamais lá, não em plenitude, enquanto estivermos presentes no corpo.
Quando amo alguém faço-o à partir de mim mesmo e de minha necessidade de ser também recompensado, seja pela alegria do retorno do sentimento, seja pela alegria de servir aquele objeto do amor. Mas eu estou mais que presente no processo. Assim como Paulo, que amava muito, mas embatia-se sobremaneira em defesa de seu próprio amor pelos que amava.
Até mesmo sua declaração em Romanos que preferiria ser separado de Cristo por amor aos seus compatriotas, ainda expressa essa forma humana e passional de amor—a mesma de um pai por seus filhos ou pelo amor de sua vida, no caso de ter de sacrificar para que o outro viva.
Paulo desviava o curso de sua natureza por amor. Jesus, todavia, não. “Ainda não é chagada a hora”—repetido por Ele tantas vezes, revela que tipo de amor Ele encarna, até para morrer.
Estou escrevendo isto para dizer somente uma coisa:
Se amamos a Deus com amor profano, nossos Dogmas habitam a terra da profanidade. E, se é assim, o Dogma, em si, será tanto mais neurótico como Dogma a ser defendido, quanto mais passional for o seu defensor.
Daí os defensores obcecados de um Dogma estarem dando muito mais que testemunho de seu amor por Deus, uma declaração de como é interiormente a sua própria alma.
Quem alcançou o amor como Dogma, pelo simples fato de estar imerso no amor, já não ladra e nem morde!
Portanto, toda ortodoxia que mata e oprime é, antes de tudo, um des-testemunho da presença do amor.
Quem mergulhou na dimensão do Amor já não tem o que defender, pois, no coração, sabe que o que é, é; e o que não é, não é—talvez mesmo jamais venha a ser!
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