Quantas vezes você acha que Paulo leu a Cartas aos Romanos?
Sim! Além da revisão do texto, depois que Tércio, o secretário do apóstolo, acabou de redigir o ditado de Paulo, quem sabe por dias — não vejo Paulo lendo a sua própria carta de vez em quando, a fim de não esquecer o que dissera; e, mais que isto: não o vejo meditando em suas próprias palavras, como se elas não tivessem passado por ele; ou, mais ainda: não o vejo meditando em suas cartas como se elas não estivessem vivas e inscritas nele, não como texto, mas como entendimento disponível e instalado na essência do ser.
Paulo não lia as suas próprias cartas, pois, elas não foram obras de psicografia, mas sim apenas um derrame lúcido do que ele pensava e cria.
Portanto, Paulo não precisava ler suas cartas, mas apenas pensar o que pensava, posto que tudo estava nele; não como blocos sistematizados de doutrinas, mas sim como compreensão presente nele até dormindo.
Outra questão:
Será que Paulo cresceu na consciência do Evangelho entre a sua primeira carta e a última?
Ora, as primeiras cartas foram escritas aos Tessalonicenses, logo depois do ano 50. Depois vieram as cartas aos Gálatas, aos Coríntios e aos Romanos, tudo entre os anos 54 e 58. A seguir vêm as cartas aos Colossenses, à Filemon, aos Filipenses e aos Efésios; e, depois, as cartas escritas a Timóteo e Tito.
Paulo escreveu tudo entre o ano 50 e o 64-67 da presente era. Assim, passou igual tempo (35-50), antes, sem escrever nada, apenas pregando, conversando, ouvindo, meditando, elaborando, anunciando, e, refletindo sobre as implicações da fé; e isto antes de escrever qualquer coisa.
Ora, em todas as cartas quase sempre alguns temas aparecem, seja como algo desenvolvido, como em Romanos, seja algo simples e prático, como nas cartas à Filemon, Timóteo e Tito.
Assim, respondendo, o que se vê é que no que concerne aos temas da vida em Cristo, Paulo não tem “releituras a fazer”. Porém, no que concerne a temas eclesiológicos ou comportamentais, Paulo faz adaptações e até concessões com o passar do tempo.
Então você me diz: Mas e daí? O que isto tem a ver comigo?
Tem a ver comigo e com você no que diz respeito ao fato de que Paulo cresceu em entendimento apenas como algo a ser agregado ao entendimento adquirido, e nunca como algo a substituir o que ele já havia declarado.
Assim, se deduz que Paulo escrevia apenas o que nele transbordava; e, mais: o que nele transbordava permanecia como conteúdo imutável.
Por esta razão foi que eu disse que Paulo não ficava relendo as suas próprias cartas, pois, para outros elas poderiam ser um conteúdo a ser aprendido como informação, mas, para ele, era o derrame da vida e da compreensão que nele se instalara como carnegão e conteúdo implantado no ser.
Desse modo, Paulo jamais pensaria: O que foi mesmo que eu disse aos Romanos ou aos Efésios sobre este tema?
Não! Tudo estava nele como vida e pensar!
Ora, nada mudou no que tange ao processo de encarnação e assimilação da Palavra, pois, ou ela nos absorve e nos penetra, ou, de fato, ela jamais será nada para nós além de texto.
Quando Paulo falou aos Coríntios acerca de que eles eram cartas vivas, ele dizia o que tem de ser sempre; e mais: dizia o modo único pelo qual a Palavra faz simbiose conosco.
Enquanto fico apenas querendo saber quem disse o quê nas Escrituras, elas não entram em mim. Mas quando creio que o autor é um só, e, assim, não busco entender caso a caso e verso a verso, mas sim busco o espírito de todo o ensino, que é amor que constrange, fé que justifica e esperança que santifica —, então: a Palavra se arraiga em mim como entendimento.
Quem guarda o espírito do Evangelho por ter meditado em suas implicações para a vida, esse, mesmo que esqueça tudo como informação técnica, ainda assim jamais esquecerá a Palavra, posto que ela é espírito e vida, e não informação e demonstração de conhecimento acumulado, mas apenas de vida vivida em amor.
Não leia as cartas de Paulo. Deixe que as cartas de Paulo leiam você!
Pense nisto!
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