sexta-feira, 19 de março de 2010

"Uma viagem pela mente de Paulo"

Acabo de ler um artigo seu chamado "Uma viagem pela mente de Paulo" e muitos detalhes me chamaram a atenção. É um artigo grande e traz uma série de pontos que podem ser discutidos amplamente, cada um com suas peculiaridades e diferenciados níveis de abordagens.

Em um determinado ponto do artigo você menciona os "slogans" e "aplicativos" relativos às cartas de Paulo, em ambas relações citando o fato de se ter uma única mulher, ou da mulher pertencer à um 'dono'. O artigo registra que "o aplicativo carrega o Princípio, mas não pode ser instituído como forma".

Nesse ponto fiquei com uma dúvida que, provavelmente em virtude das minhas limitações intelectuais, não consegui extrair respostas claras e conclusivas a esse respeito, no tocante ao que você queria dizer com tudo isso, especificamente a esse ponto que eu destaco.

O artigo registra que não podemos considerar os ditos de Paulo como “mandamento para todas as culturas dos gentios da terra” e logo em seguida cita que “Em Cristo não há homem, nem mulher; nem escravo, nem liberto; nem judeu, nem grego". Ao falar sobre o contexto em que viviam as prostitutas e as mulheres que tinham marido, e da necessidade que havia da segunda se distinguir da primeira, vemos que as mulheres que tinha marido usavam véu, e os homens "respeitavam-no porque aquela mulher tinha 'dono' ".

Bom... resumindo, até mesmo porque você conhece mais do que ninguém esse artigo, gostaria de fazer uma pergunta:

Quando você afirma que "coisas do dia a dia se transformaram em lei de conduta entre os cristãos", está se referindo aos velhos e famosos usos e costumes, às divergências doutrinárias, às mais variadas formas de governo que existem nas congregações (que muitos chamam de igreja), ou estaria se referindo a algo mais intrigante (para mim) como por exemplo poder ter mais de uma mulher? (por favor, não faça conexões com histórias do passado.. pura coincidência... pergunto isso em virtude do que li no artigo e estou sendo muito sincero em perguntar).

Correndo o risco de não ter entendido claramente o artigo que li, me exponho tirando essa dúvida, e me sinto um tanto quanto confortável em fazê-lo diretamente com a fonte.

Agradeço desde já a atenção e oro ao Senhor para que Ele continue derramando sobre sua vida benção sem medida e a Sua maravilhosa graça.

************************************

RE: Meu amado, obrigado pelo texto tão agradável.
Na minha maneira de ver Paulo sabia muito mais que expunha.
Ele respeitava a consciência fraca dos irmãos sinceros.
Parte de seus ensinos foca nesse ponto e anda sobre essa linha tão tênue.
Ele sabia que em Cristo não há homem nem mulher, nem...
Mas mesmo assim, em dadas circunstancias, ele lida com o imediato, e diz que há homem e mulher—e impõe limites circunstancias.
E por que?
Porque aquelas questões eram periféricas para a salvação, porém relevantes para o “momento” da cultura e da questão que estava posta.
Uma das coisas que vemos em Paulo é um constante “dilema” entre aquilo que ele já sabe que é uma conquista eterna de Cristo e aquilo que precisa ser uma “apropriação gradual” da consciência humana.
Exemplo: Em Cristo não há escravo, nem livre--Paulo disse como Princípio. Mas, no aplicativo, ele diz como o irmão-escravo deveria se relacionar com o "dono". E vice-versa. E por que? Ora, em Cristo aquilo tudo teria que acabar. Mas enquanto não chegasse o dia e a hora, haveria um modo relativo, porém circunstancialmente "cristão" de praticar o Princípio. Mas os cristãos usaram o "aplicativo" até a pouco tampo atrás como se fosse um "mandamento" que justificasse a escravidão.
No caso do véu, creio que você não entendeu bem, e misturou com a questão do bispo ser “marido de uma só mulher”.
O que eu disse é simples: como ele estava “indicando” o rumo do Bem Eterno, ele afirmava o Ideal como Princípio, mas lidava com o circunstancial com a sabedoria da ética que ele professava. Ou seja: uma ética que dizia que tem-se, muitas vezes, que escolher um mal menor; ou ter que admitir que certos fatos da vida já são irreversíveis. Mas não nos conformarmos com eles.
"Se podes tornar-te livre, aproveita a oportunidade"--diz ele.
Enquanto isto: "Cada um ande conforme foi chamado".
Bem, para mim, pelo menos, a diferença é clara e está estabelecida. Existe o Princípio Absoluto, e existe a "relatividade do aplicativo", que sempre a sabedoria aplicada ao contexto.
Parte de sua “briga” com Jerusalém era essa. Daí ele ter “conseguido” aquele avanço no Concílio de Jerusalém de que as “proibições aos gentios” ficassem reduzidas a apenas quatro. Ele era aquele que se fazia de tudo para com todos para salvar alguns. Ora, essa frase dele já diz tudo.
Além do que, mesmo tendo a liberdade em Cristo completamente dilatada, ele é também o homem que “toma voto” em Jerusalém. E por que? Por ele mesmo? Não! Pelos irmãos. Entre judeus, como um judeu. Entre os Gálatas, como um deles. E não admitia que Pedro falsificasse a realidade—conforme você pode ler na carta aos Gálatas.
Bem, o assunto dá um compêndio.

0 comentários:

Postar um comentário