sexta-feira, 19 de março de 2010

Graça X Lei

 

Para conscientizar o homem de sua queda e que algo passou haver de errado com ele (pois o projeto original tinha sido corrompido, no caso, uma alma equilibrada que conhecia a paz) era necessário ser feito algo. Sem lei, não há transgressão (Rm 4:15), e pela lei veio o pleno conhecimento do pecado (Rm 3:20). Sem lei, a humanidade chegou a tal ponto de depravação que Deus teve que recomeçar tudo por uma família (Noé). A lei serve como referência ao homem em relação a sua corrupção, entretanto, ela não é capaz de transformá-lo pois age pelo medo, ou da punição, ou rejeição social, tratanto apenas o homem exterior, mas não chegando ao interior (Rm 7:22-23).

Hoje temos diversos tipos de leis, as quais muitas vezes as utilizamos como lentes para observar o mundo e as situações, todas dentro do conhecimento oferecido pela Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal. Leis da Justiça humana, leis éticas e morais, leis religiosas, entre outras... todas regendo o homem pela escravidão do medo. As Leis da Justiça humana controla o homem pelo medo da punição, da prisão, da pena de morte em alguns lugares; as leis morais e éticas nos controlam através da rejeição social, e por sermos seres sociáveis, buscamos ser aceitos pela sociedade; e as leis religiosas nos controlam pelo medo da ira divina, onde podemos desagradar a Deus e sofrer as conseqüências.

Quero comentar as leis morais e éticas, já que as outras não precisam de muito comentário. Por exemplo, por que uma mulher muitas vezes não se envolve com todos os homens que deseja? Será que é por perceber que não os ama, e por isso não vai à frente? Sem generalizar mas crendo ser o caso de muitas, concordo que há vários fatores, mas imagino que o principal é o medo de ficar mal falada pois isso não condiz com as regras morais impostas às mulheres. As regras morais e éticas representam o que há de maior orgulho e soberba humana. Esta mesma mulher que não se envolveu para não ficar mal falada, é muitas vezes a mesma que condena a que se envolve, fazendo aquela se sentir superior a esta, mesmo que interiormente a pulsão por tal coisa esteja fervilhando. Logo, tais regras mexem na casca, se tornam máscaras e índices para comparação de boa conduta entre as pessoas, trazendo julgamento e cegueira para os que conseguem cumprir tais regras porque recebem glória de homens, mas não Daquele que sonda os corações.

Nos últimos meses comecei a ser incomodado ao perceber que muitas vezes me comportava mais parecido com as pessoas a quem Jesus confrontava asperamente, do que com os que ele andava e chamava como discípulo. Comecei a perceber meu legalismo, e como me parecia com os fariseus tão criticados por Cristo. Pessoas que não entravam nos céus, e nem deixavam os outros entrar por estar tão ligados a regras, ainda escravos da lei e sem conhecimento da liberdade na graça e amor. Tudo por falta do meu entendimento da graça, favor imerecido, que na minha mente já estava memorizado como um papagaio memoriza várias palavras, mas ainda não a tendo como vida e verdade no coração.

Mas qual a diferença entre lei e graça? A lei foi dada a Moisés em tábuas de pedras, algo fixo, rígido. E em toda e qualquer lei ou regra, seja judicial, moral ou qualquer outra, transgrediu é condenado, não há perdão, há apenas juízo. Quem adultera é adúltero, quem mata é assassino, quem erra é culpado, não há lugar para arrependimento. Porém, Jesus veio estabelecer a graça, a Nova Aliança, e a palavra nos diz que Deus a escreveria no coração dos homens, no mais interior de seu ser, algo que pulsa, bate, tem vida e movimento, não mais rígido como uma pedra (2 Co 3:2-3).

Quero explicar melhor a rigidez da Lei e a pulsação da Graça. Todo mundo que comete pecado é pecador? Se sim, logo não há um santo sobre a terra (Rm 15:25). Quem seriam os tais "santos" pela Lei? Todo mundo que comete adultério é um adúltero? A palavra nos diz em 1Co 6:10 que os adúlteros não herdarão o reino dos céus, mas e aí? Qual a diferença entre este "adúltero" e alguém que cometeu adultério? Como foi falado no início, pecado é aquilo que fazemos contra nossa própria consciência, desde que ela ainda consiga enxergar os fatos com um mínimo de amor. O adúltero é aquele que já não consegue enxergar seus atos pelo amor, a ponto de sua consciência não mais acusá-lo do erro, ou então que finge tal insensibilidade, a ponto de chegar para os amigos no bar e se vangloriar que tem várias mulheres enquanto a esposa está em casa. O que cometeu adultério é o que devido às circunstâncias ou à fraqueza, caiu no erro, mas pela consciência se arrependeu e desejaria não ter cometido tal ato. Neste caso, Jesus veio em carne e conheceu suas fraquezas e pôde se fazer réu por ele, imputando sua justiça e tornando-o santo, não por seus próprios méritos, mas pela fé em Cristo que pagou o preço por ele. Para este, há o perdão do Pai; para aquele, ainda faltou o arrependimento e uma consciência renovada pelo amor de Deus. Alguns podem perguntar: "Mas como vamos saber se a pessoa realmente se arrependeu"? E eu pergunto: "O que temos a ver com isso"? A fé e vida com Deus é algo pessoal, intransferível, logo, que a própria pessoa se julgue, porque ela até pode nos enganar, mas não pode enganar Aquele que sonda os corações. Paulo nos disse que o fim do mandamento é o amor de um coração puro, uma boa consciência e uma fé não fingida (1Tm 1:5). Não podemos ter o papel de juízes neste caso, sendo nosso único papel amar incondicionalmente, afinal, quem ama está acima das leis.

A fé e entrega da vida a Cristo foi a reconciliação com o homem planejada por Deus, e que traria novamente a paz interior, não como o mundo a dá, mas como a dá Cristo. O paz no mundo é exterior, baseada nas circunstâncias. Na verdade, é uma paz firmada na maior insegurança da pessoa. Se o fato que te dá paz é seu emprego, seu maior medo também será perdê-lo. Se tua paz for firmada no casamento, teu maior medo será o divórcio. Onde está a base da nossa segurança, ali também está nossa maior insegurança. A paz em Cristo é interior, pela fé, não baseada em circunstâncias nem no que existe, mas Naquele que É! O tamanho da nossa confiança em Deus é o tamanho da nossa fé, e conseqüentemente, é também o tamanho da paz em nossos corações.

0 comentários:

Postar um comentário