Descalça e suja, uma garotinha passava as tardes numa praça de uma cidade do interior, olhando as pessoas passarem. Ela nunca tentava falar com ninguém, não sorria, não dizia uma única palavra. Muitas pessoas passavam por ela, mas nenhuma sequer lhe lançava um simples olhar, ninguém parava, inclusive eu, confesso, que por uma ou duas vezes já havia visto a jovem, mas por achar que era moradora de algum bairro próximo a centro, não me preocupava em me deter. Até que um dia, no entardecer, decidi ir lá na praça para ver se a pequena garota ainda estava lá.
Ela estava empoleirada no alto do banco próximo à Igreja Matriz, com o olhar mais triste do mundo. Mas, desta vez, eu não pude simplesmente passar ao largo, preocupado somente com meus afazeres. Ao contrário, vi-me caminhando ao encontro dela.
Pelo que todos sabemos, uma praça – mesmo numa pequena cidade do interior – é um local cheio de pessoas estranhas e não é um lugar adequado para crianças brincarem sozinhas, muito menos no início da noite.
Quando me aproximei dela, pude ver que as costas do seu vestido indicavam uma deformidade. Conclui que esta era a razão pela qual as pessoas simplesmente passavam e não faziam esforço algum em se importar com ela.
Quando cheguei mais perto a garotinha deliberadamente baixou os olhos para evitar meu olhar. Pude ver o contorno de suas costas mais claramente. Ela era grotescamente corcunda. Sorri para lhe mostrar que tudo estava bem e que estava lá para ajudar e conversar. Sentei-me ao lado dela e disse um olá.
A garota reagiu chocada e balbuciou um ‘oi’ após fixar intensamente meus olhos. Eu sorri e ela timidamente sorriu de volta. Conversamos até que a noite chegou de vez, e a praça já estava praticamente tomada, com todos indo e vindo sem se deter onde estávamos. Embora cercado por muitas pessoas, estávamos praticamente “sós”.
Eu perguntei porque a garotinha estava tão triste.
Ela olhou-me e disse: “Porque eu sou diferente”.
Respondi-lhe, sorrindo: “Sim, você é”.
A garotinha ficou ainda mais triste, dizendo: “Eu sei”.
“Garotinha”, eu disse, “você me lembra um anjo, doce e inocente”.
Ela olhou para mim e sorriu lentamente, levantou-se animada: “De verdade?”.
“Sim, querida, você é um pequeno anjo da guarda mandado para olhar todas estas pessoas que passam por aqui”, eu lhe disse, sem ter consciência do que verdadeiramente dizia.
Ela acenou com a cabeça e disse sorrindo “sim, é verdade”, e com isto abriu suas asas e piscando os olhos falou: “Eu sou o seu anjo da guarda”.
Eu fiquei sem palavras e certo de que estava tendo visões.
Ela finalizou: “Agora eu posso ir embora, pois quando você deixou de pensar unicamente em você, meu trabalho aqui foi realizado”.
Imediatamente, levantei-me surpreso e perguntei: “Espere, porque então ninguém mais parou para ajudar um anjo?”.
Ela olhou para mim e sorriu: “Você foi o único capaz de me ver” e desapareceu.
Quando você pensar que está completamente só, lembre-se: seu anjo está sempre tomando conta de você. Passe isto para toda pessoa que signifique algo para você... Como diz a estória, todos precisamos de alguém. Cada um de seus amigos é um anjo em sua própria maneira de ser. (Adaptei de um texto recebido)
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